Análise da série Dom (1ª temporada)


O sonho de Victor Dantas (Flávio Tolezani/Filipe Bragança) era se tornar mergulhador profissional, mas faltava apoio da própria família, já que seu pai preferia que ele seguisse alguma profissão tradicional. Apesar dessa divergência, ele não desistiu do seu sonho. Durante um de seus treinamentos, Victor encontra no fundo do mar algo que mudaria sua vida para sempre: o cadáver de um capitão do exército. Ao comunicar a polícia o ocorrido, o jovem é levado até uma delegacia para prestar depoimento. Apenas para contextualizar, estamos no ano de 1970, época em que imperava a ditadura militar no Brasil. 

Enquanto relatava o que havia acontecido, Victor conhece um coronel (Wilson Rabelo) que fica interessado nas suas habilidades. Utilizando o codinome Arcanjo, o militar pede que mergulhador realize uma pesquisa para o Exército brasileiro, o objetivo era mapear pontos de distribuição de cocaína na costa da Bahia. Com o sucesso da operação, que contou até com o apoio da Interpol, Arcanjo recruta Victor para se infiltrar nas favelas do Rio de Janeiro e rastrear a distribuição da droga pela cidade. Nesse momento, o entorpecente vindo da Colômbia estava começando a se espalhar pelos morros da antiga capital do Brasil. O esquema era comandado por Ribeiro (Fábio Lago), de quem Victor acaba se aproximando para obter informações. A luta contra as drogas é o que o faz, posteriormente, ingressar na Polícia Civil.


Anos depois, o personagem vivencia, dentro da própria casa, o problema que ele trabalhou grande parte da sua vida tentando combater: Pedro (Gabriel Leone/Guilherme Garcia), seu filho mais novo, começou a fazer uso de cocaína quando ainda era criança. Com o passar do tempo, a situação só vai piorando, mas Victor não perde a esperança de que o filho conseguirá abandonar o vício e faz tudo o que está ao seu alcance para tentar ajudá-lo. Além do pai, a irmã de Pedro, Laura (Mariana Cerrone/Mafê Medeiros), e sua mãe, Marisa (Laila Garin), são outros que sofrem com a sua condição.

Da mesma forma que acompanhamos a trajetória de Victor, a série nos apresenta a jornada de Pedro durante a década de 1990 e o início dos anos 2000. Na infância, ele já se envolvia em confusão, mas muitas das vezes saía ileso em razão da influência de seu pai. Esse cenário piora na fase adulta, quando Pedro conhece Jasmin (Raquel Villar) em um baile funk no Morro dos Tabajaras, tipo de festa que ele gostava de frequentar junto com Lico (Ramon Francisco), seu amigo de infância. Jasmin tinha envolvimento com Mauricinho da Urca (Juliano Laham), que foi preso pela polícia no começo da série e era líder de um pequeno grupo especializado em assaltar casas.

Conhecido como Pedro Dom na periferia, o filho de Victor assume o lugar antes ocupado por Mauricinho e começa a assaltar mansões junto com Jasmin, Lico, Armário (Digão Ribeiro) e Viviane (Isabella Santoni). Apesar da resistência inicial de Armário, Dom vira o cabeça do grupo e passa a orquestrar os planos que seriam executados. Não havia nenhuma modéstia de sua parte: especialista em abrir fechaduras, Pedro furtava veículos de marcas como Audi, BMW e Mercedes. Em meio a ações arriscadas e algumas atitudes imprudentes de Lico, que mais atrapalhava do que ajudava, a cocaína era um elemento que estava constantemente presente na equipe. Pedro estava seguindo um caminho aparentemente sem volta e cada vez se afundava mais no mundo das drogas e do crime.

Sempre que uma obra audiovisual é ambientada no passado, gosto de observar o trabalho de caracterização de época. A série criada e codirigida por Breno Silveira consegue retratar muito bem ambientes das décadas de 1970 e 1990 e os primeiros anos do século XXI, mas comete alguns pequenos deslizes. No segundo episódio, enquanto assaltavam uma mansão, podemos ver um modelo de televisão (possivelmente uma TV de LED) que não existia na época. Mais adiante, no mesmo episódio, Pedro joga para o chofer de um hotel a chave do veículo em que ele havia feito uma ligação direta para acionar o motor. Além disso, no primeiro episódio podemos ver um ônibus com pintura atual aparecendo em 1999. São detalhes mínimos que de forma alguma tiram o mérito da obra.


Considerações finais
Inspirada em fatos reais e tendo como base o livro homônimo de Tony Bellotto e a obra O Beijo da Bruxa, escrita por Luiz Victor Lomba, a primeira temporada de Dom conta com uma narrativa não linear que nos apresenta as histórias de Victor e Pedro. Essa dualidade de tramas nos leva a um ponto comum, a cocaína, droga responsável por causar destruição em inúmeras famílias. Fazendo uso reiterado de flashbacks, em alguns momentos os eventos ligados ao passado de Victor chamam mais a atenção do que aqueles relacionados ao próprio filho, porém a investigação em que o policial se envolve no presente acrescenta pouca coisa para a trama. 

Junto com o formidável enredo, as atuações de Gabriel Leone, Flávio Tolezani e Filipe Bragança merecem um destaque especial. Os três atores se entregaram totalmente aos papéis e executaram trabalhos dignos de elogio. Outro que rouba a cena sempre que aparece é Fábio Lago. Durante os oito episódios, com duração aproximada de sessenta minutos cada, o que vemos é uma obra de alto nível, com uma bela fotografia, ótima direção e uma trilha sonora de respeito. Como é legal ver séries nacionais com esse elevado padrão de qualidade. Fruto de um trabalho de mais de dez anos de Breno Silveira, o resultado final mostra que a espera valeu a pena.

Nota
★★★★☆ - 4 - Ótimo


Veja mais sobre Dom:

➜ Você pode ler análises de outras séries clicando aqui.
Herbert Viana

Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV". twitter

O que achou desta postagem? Encontrou algum erro? Compartilhe sua opinião!

Postar um comentário (0)
Postagem Anterior Próxima Postagem

Publicidade