Análise do jogo Daymare: 1994 Sandcastle


Um grupo de desenvolvedores independentes estava trabalhando em um remake de Resident Evil 2 quando, em 2015, receberam um pedido da Capcom para que o projeto fosse interrompido. Convidados para visitar a companhia japonesa, eles descobriram que um remake oficial do segundo jogo da saga estava sendo desenvolvido. Na ocasião, eles deram algumas dicas a Capcom, sendo inclusive mencionados nos créditos do remake de Resident Evil 2, e receberam incentivo para criar o seu próprio jogo. A Invader Studios foi fundada em 2016 e três anos depois a desenvolvedora lançou o seu primeiro game, Daymare: 1998.

Agora, em 2023, o estúdio italiano disponibilizou o segundo título da franquia, que na verdade é uma prequela ambientada quatro anos antes do seu antecessor. Como Daymare: 1994 Sandcastle é o meu primeiro contato com a série, não poderei fazer comparações com o seu antecessor, mas por outro lado pude acompanhar a história sem grandes prejuízos. Com visão em terceira pessoa, no game assumimos o controle de Dalila Reyes e acompanhamos uma narrativa repleta de segredos e reviravoltas interessantes.

Membro da H.A.D.E.S. (Divisão Avançada para Extração e Busca da Hexacore), a agente Reyes vai até a Área 51, junto com o Comandante Foster e o Major Radek, para atender um alerta vermelho. Por ordens do Departamento de Defesa, maiores detalhes sobre o ocorrido são mantidos em sigilo, sabemos apenas que no local estava sendo desenvolvido um programa do governo cujo codinome era Projeto Logro.  Os terremotos registrados na região indicavam que não se tratava de uma situação simples. O objetivo da missão é encontrar o Dr. Noah Anderson, a única pessoa que havia conseguido fazer contato com o mundo exterior após o incidente, e recuperar uma maleta que continha algo importante. Como o Presidente dos EUA também havia enviado uma equipe ao local, os membros da H.A.D.E.S. precisavam agir rápido e conseguir a maleta antes do outro grupo.

Vasculhando as instalações, Reyes descobre a existência de uma liga metálica chamada RAM77, que possui capacidade de absorção eletromagnética. Presenciando bolas de energia reanimando cadáveres, a protagonista começa a se dar conta da pesquisa que estava sendo desenvolvida no local e o motivo de tudo ser mantido em sigilo. Para lidar com essas criaturas, temos acesso a duas armas de fogo, uma espingarda e uma submetralhadora. Ainda na parte inicial do jogo, também adquirimos o Frost Grip, um dispositivo que libera nitrogênio líquido e é capaz de apagar o fogo, resolver puzzles, retardar e congelar inimigos e destruir os orbes de energia. Só é possível derrotar os inimigos reanimados com a bola de energia vermelha após congelá-los completamente.

Enquanto jogamos, podemos encontrar peças para aperfeiçoar as armas e estações de upgrade para o Frost Grip. As estações oferecem uma variedade de opções e são desativadas assim que o jogador escolhe alguma melhoria. Também pelos cenários nos deparamos com documentos, registros de áudio e objetos que revelam informações quando são escaneados. Esses coletáveis apresentam novos detalhes sobre a história e nos ajudam a compreender do que se tratava a pesquisa que estava sendo desenvolvida. Temos ainda alienígenas espalhados pelos ambientes, mas eles representam apenas uma tarefa extra e não acrescentam nada em termos narrativos.

Dois outros recursos importantes são os kits médicos e os cartuchos de combustível do Frost Grip. Como o Frost Grip recarrega automaticamente de forma lenta, durante o confronto contra vários oponentes muitas vezes é necessário utilizar os cartuchos para ter o hidrogênio disponível de forma imediata. Já a vida da protagonista não se regenera, sendo necessário restaurá-la com o kit. Com exceção dos coletáveis, tudo o que recolhemos vai para o inventário, que possui apenas dezesseis espaços, o que eventualmente pode nos obrigar a descartar algum item.

Os momentos de combate são relativamente simples, porém desafiadores. A protagonista não é tão ágil quanto os seus oponentes e quando um inimigo chega muito perto, as chances de não conseguirmos mirar nele antes que haja um ataque são grandes. A falta de agilidade de Reyes é o maior problema da jogabilidade, o que me levou a repetir alguns trechos várias vezes. Se o jogo contasse com um botão de esquiva, a experiência certamente seria melhor. Outra adição bem-vinda seria a inclusão de um mapa para facilitar os deslocamentos. Daymare: 1994 Sandcastle conta com cinco tipos de inimigos, considerando as variações azul e vermelha de dois deles, e a forma de encará-los muda conforme as habilidades de cada um. Um desses oponentes é capaz de nos matar com um único golpe, independentemente do nível de vida da protagonista, algo que pode ser frustrante.

Como um bom jogo de survival horror, o segundo título da franquia Daymare conta com recursos limitados. Lembro que durante uma parte do game cheguei a ter apenas seis balas na espingarda para enfrentar qualquer coisa que aparecesse na minha frente. Os recursos são distribuídos de forma gradual pelas fases e quando encontramos muitos itens é certo que algo de ruim está por vir. Embora busque homenagear os Resident Evil clássicos, o game conta com puzzles extremamente simples, ficando os maiores desafios para os momentos em que precisamos hackear algo.

Um ponto que merece ser destacado é a excelente ambientação, os cenários são variados, bonitos e muito bem construídos. Enquanto exploramos os mistérios da Área 51, nos deparamos com laboratórios, uma cidade e até mesmo uma escola infantil. Alguns locais são tão escuros que mesmo com a lanterna é difícil de locomover. Notei apenas uma falha nos reflexos, que não funcionam de forma adequada com a protagonista: quando para em frente um espelho ou vidro, ao invés de mostrar o rosto de Reyes, o que vemos são as suas costas. Também gostei muito dos elementos sonoros do game, o que contribui para a imersão no clima de tensão. O jogo está legendado em português do Brasil e a dublagem em inglês me agradou. Enquanto jogava, não presenciei nenhum problema técnico que comprometesse a minha experiência.

Daymare: 1994 Sandcastle está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One e Xbox Series. Esta análise foi feita com base na versão de PC com uma cópia que nos foi fornecida pela Leonardo Interactive, a quem registramos o nosso agradecimento.

Especificações do computador utilizado para a análise: Ryzen 7 5700X, RTX 3060 12 GB, 32 GB de memória RAM DDR4 3200Mhz.


Considerações finais
A premissa de executar uma operação de extração na Área 51 por si só já é interessante, mas Daymare: 1994 Sandcastle vai muito além disso. O segundo jogo da desenvolvedora independente Invader Studios nos apresenta um enredo sólido e que vira e mexe nos pega de surpresa com suas reviravoltas. Além de abordar o que estava sendo desenvolvido na instalação governamental, a narrativa também explora o passado da protagonista, fazendo uma ligação desses eventos com o presente. Os aspectos audiovisuais foram muito bem trabalhados e criam uma atmosfera constante de apreensão.

O maior problema de Daymare: 1994 Sandcastle está na jogabilidade, que muitas das vezes é desproporcional aos desafios enfrentados pela agente Reyes. Se a protagonista tem uma certa lentidão em praticar ações simples como mirar, seus inimigos são extremamente ágeis e partem para cima em uma fração de segundos. Essa falta de equilíbrio fica evidente quando precisamos lidar com vários inimigos em áreas muitas das vezes pequenas. A baixa dificuldade dos quebra-cabeças e a falta de variedade dos inimigos e armas são outros aspectos que merecem ser mencionados. Por outro lado, o Frost Grip proporciona um novo tipo de experiência aos jogos de sobrevivência e horror.

Nota
★★★☆☆ - 3 - Bom


➜ Você pode ler análises de outros jogos clicando aqui.
Herbert Viana

Criador e editor do Portal E7, Herbert é advogado, amante de games e séries. Gamertag/ID: "HerbertVFV". twitter

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